Chegamos então ao subestimado New Blood, quinto álbum de carreira do grupo e um registro que muitos não costumam dar muita bola. A grande maioria dos apreciadores da discografia do Blood, Sweat & Tears tem preferência pelos quatro primeiros discos da banda. Dou total razão a eles, já que curto bastante esses trabalhos que flagram o auge da turma. Mas em um infalível Top 5 de melhores plays da trupe, não deixaria de fora este New Blood nem a pau.
Volta e meia coloco pra rodar el bolachon lançado em 1972 que, além de apresentar faixas bem interessantes, traz também boas recordações no âmbito bolhal: paguei apenas 10 pilas no LP importado, novinho. Merrecas à parte, lembro que comprei o danado no escuro, sem conhecer o seu conteúdo. O que sabia do disco havia lido em algumas resenhas não muito elogiosas , e que me deixaram cabreiro quanto à sua qualidade. Mas no meu canto bolha, rodeado de discos e teias de aranha, pude enfim cravar meus ouvidos nesta belezinha discográfica e mais uma vez desafinar o coro dos contentes.
Banda reformulada, a começar pelo vocalista David Clayton -Thomas que preferiu sair devido à corrente mais jazzística que o combo demonstrava seguir, optando por retomar a sua carreira solo. Clayton –Thomas retornaria à banda em 1974, nas gravações do álbum New City. Nessa leva, também caíram fora os músicos Dick Halligan e Fred Lipsius.
Para os lados do BS&T, Steve Katz (guitarra), Bobby Colomby (batera) e Jim Fielder (baixo), remanescentes do line-up original, se empenhavam em agrupar novos membros para dar o sangue, o suor e a raça em prol da banda. Com Jerry Fisher assumindo o posto de principal vocalista e mais as participações do pianista de jazz Larry Willis, do guitarrista sueco Georg Wadenius e de um naipe de metais de respeito que incluía Chuck Winfield, Lew Soloff, Dave Bargeron e ainda Lou Marini (futuro Blues Brothers), o registro é daqueles que melhoram a cada nova audição.
O BS&T em 1972: sangue novo no pedaço
Com tantas mudanças na formação e um título desses, o resultado não poderia ser outro senão sangue novo no pedaço, com muito swing plasmático percorrendo as veias do groove (“Down in the Flood”, de Bob Dylan); baladas avassaladoras sangrando soul (“Touch Me” e “So Long Dixie”); solinho de guitarra e vocal de Georg Wadenius a la George Benson (“Maiden Voyage”, de Herbie Hancock); além de belíssimos arranjos vocais muito bem assessorados por instrumentos de sopro magistrais ( “Alone”, “I Can’t Move No Mountains” e “Snow Queen”). Enfim, uma completa transfusão sonora, propícia para sintonizar o groove com as batidas do coração. Um álbum com uma levada mais jazzística que a dos registros anteriores, mas que mantém em evidência aquele frescor pop característico da banda.
Apesar das desconfianças geradas com a nova (pero no mucho) abordagem musical e com a saída de Clayton -Thomas , ainda assim o álbum conseguiu encaixar o single “So Long Dixie” entre as 45 mais tocadas nas rádios americanas. O álbum chegou ao Top 40, mas não foi o suficiente para que alcançasse bons números em termos de vendas.
Em 1973 foi a vez de Steve Katz pedir as contas e partir para o ramo das produções musicais, além de adotar o American Flyer como a sua mais nova instituição, gravando dois álbuns: a estréia homônima (1976) e o derradeiro Spirit of a Woman (1977). O glorioso Blood, Sweat & Tears prosseguiu a sua jornada e vieram os álbuns No Sweat (1973) e Mirror Image (1974) contendo algumas boas faixas mas que, como um todo, apresentavam resultados apenas razoáveis. Só com o lançamento de New City em 1975 (que marcou a volta do vocalista David Clayton-Thomas) é que o grupo alcançou um bom momento, muito por conta da versão de “Got To Get You Into My Life“, dos Beatles. Outros álbuns foram produzidos – More Than Ever (1976) e Brand New Day (1977) -, seguidos de uma desastrosa turnê pela Europa em 1978. Foi o suficiente para os membros decidirem que era a hora da banda dar um tempo em suas investidas musicais.
Sangue, suor, lágrimas e metaleira
Em 1979, já sem nenhum dos membros fundadores por perto (Fielder e Colomby sairam em 1973 e 1976, respectivamente), David Clayton-Thomas decidiu remontar o BS&T, convocando uma tropa de músicos canadenses. Gravaram o álbum Nuclear Blues que saiu pela gravadora Avenue Records em 1980. Considerado por muitos fãs como o pior registro do Blood, Sweat & Tears, o álbum era mais uma tentativa de reinventar a banda, apelando para uma sonoridade mais funk, no embalo do som praticado por bandas como Tower of Power e War, o que definitivamente não agradou aos torcedores da agremiação. Resultado: o LP foi um estrondoso fracasso comercial. Mais uma rápida turnê sem maiores consequências e em 1981, novamente a banda se desfez.
Clayton-Thomas ainda realizou turnês nos anos seguintes, arrastando o nome da banda por quase 20 anos. Em 2004, ele anunciou que seguiria novamente sua carreira solo e que o BS&T havia, enfim, encerrado as suas atividades. Desde então, retornos com a participação de alguns dos membros originais ocorreram, promovidos em ocasiões especiais. As últimas informações dão conta que desde 2005 – com o aval de Bobby Colomby – Chuck Negron (um dos vocalistas do Three Dog Night) tem excursionado utilizando em vão o nome Blood, Sweat & Tears featuring Chuck Negron. Castiga!
Para os colecionadores de plantão com ouvidos aguçados e que por ventura ainda não possuem nenhum material do Blood, Sweat & Tears, vale a pena correr atrás de alguns desses álbuns. Minha discoteca básica inclui os cinco primeiros registros, e podemos engordar a conta adicionando o New City e o In Concert, ao vivo. Todos relançados em edições remasterizadas, a maioria com faixas bônus. Prepare o bolso e boa falência!
Faixas: 01. Down in the Flood / 02. Touch Me / 03. Alone / 04. Velvet / 05. I Can’t Move No Mountains / 06. Over the Hill / 07. So Long Dixie / 08. Snow Queen / 09. Maiden Voyage
BLOOD, SWEAT & TEARS – DOWN IN THE FLOOD
BLOOD, SWEAT & TEARS – VELVET
BLOOD, SWEAT & TEARS – I CAN’T MOVE NO MOUNTAINS
BLOOD, SWEAT & TEARS – OVER THE HILL
BLOOD, SWEAT & TEARS – SO LONG DIXIE
Fala Marco!
Muito bom esse especial com o Blood, Sweat & Tears. Bandaça a qual dá pra se montar uma coleção de respeito. Esse “Sangue Novo” eu não conhecia, mas vendo os vídeos cheguei a conclusão:discaço. Aliás, tudo o que você recomenda é de primeira!
Agora, preciso dar um destaque para a resenha:”recordações no âmbito bolhal”, “(…) meu canto bolha, rodeado de discos e teias de aranha”… sensacional!
Abraço.
Grande Lucas sangue bom!
Legal que você curtiu! Eu sempre gostei dessas big bands repletas de instrumentos de sopro e cordas. Aliás, vou publicar, logo mais, alguns posts com grupos que foram influenciados pelo som do Blood, Sweat & Tears como o Ides of March e o Lighthouse, por exemplo. Se prepara que vem metaleira braba por aí. Castiga!
Abraço
BLOOD, SWEAT & TEARS
Sinister Vinyl Collection: https://sinistersaladmusikal.wordpress.com/category/blood-sweat-tears/
Thanks pelos créditos!
Abraços