Desde o lançamento de Sol no Escuro, em 2007, que aguardo ansiosamente o novo trabalho de Fabio Góes. Afinal, o disco de estreia deste talentoso músico, compositor e produtor paulistano rendeu um dos melhores registros da música brasileira nos últimos anos. Faixas como “Mundo Acumulado”, “Surfista” ou “Lembranças”, por exemplo, são canções que tem prazo de validade de uma vida inteira. Passados 4 anos – e agora com família e um filho nas costas – Góes finalmente nos brinda com O Destino Vestido de Noiva, seu segundo rebento discográfico que, segundo o próprio, é “bastante menos introspectivo, menos melancólico, menos lento e menos hermético” que o play anterior. Será mesmo?
Não por acaso, essa renovada estética sonora torna-se perceptível já na faixa de abertura “Tão Alto e Fora do Lugar”, dando a deixa de uma pegada pop de calibre poderoso: “Quis reparar, mas acho que eu só soterrei o que não sorria mais / Vim te contar, mas por um suspiro eu fiquei e nada em mim mexia mais…” diz a letra, que escancara a estilosa veia poética de Góes. Dentro da proposta de soar mais alegre aos ouvidos alheios, “A Rua” segue a trilha de uma bela melodia, numa levada samba-rock com direito a coral ao fundo e uma cama sonora onde órgão, cavaco, guitarra e violão se incorporam à bateria eletrônica pilotada pelo amigo Curumim, que também canta alguns versos.
Mais experiente e com o faro apurado, Góes utiliza de todos os seus artifícios de multiinstrumentista tocando piano, órgão, sintetizador, guitarra, baixo, violão, cavaco, batera, percussão e o que mais lhe der na veneta, e ainda manda ver nas programações, criando texturas e camadas eletrônicas envolventes. Em temas como “Domingo e as Plantas” e “E o Amor que não Cabe Mais” ele toca todos os instrumentos sozinho; já em faixas como “Nossa Casa”, “Incenso” e “A Escolha”, recorre ao auxílio luxuoso do guitarrista Luiz “LQ” Mattos (que também assina a co-produção do álbum). Ainda rolam colaborações de Dudinha Lima (baixo), Ed Côrtes (clarinete) e Alexandre Grooves (percussão), entre outros.
Utilizando-se de mais guitarras e baterias programadas do que no álbum anterior, Góes mantém as texturas e malhas sônicas em plena atividade como mostra a faixa “Fugindo”, onde violões, sintetizadores e clarinete dividem os arranjos de forma irrepreensível. Aqui, nova participação especial do baterista Curumim e também do produtor, compositor e músico carioca Alexandre Kassin no baixo.
Na seqüência temos a leveza da balada “Frágil”, de beleza melódica e versos românticos (“Longe de mim, ser frágil assim / Só penso em correr, fugir / Ou de descansar no fim / O som do seu beijo / Eu vou me refazer com os pés descalços / Sabendo que do chão eu nunca passo / E nada passará…”). “Na pele” é outra pérola musical, com instrumental bacanérrimo e clara referência ao Clube da Esquina (“De arrepiar / Dessa vez eu vou estar na pele / De um cavaleiro dessa esquina”), forte influência na trajetória de Góes. Tem ainda a onírica “Sonho”, só com vocal e piano, em momento Arnaldo Baptista total.
O final apoteótico está na vibrante “Amor na Lanterna”, com participações de Kassin (baixo e guitarra), Curumin (batera) e a bela voz da cantora Luísa Maita, que acompanha a de Góes em versos de extrema sensibilidade que decretam que “Sentado aos 33 / Eu não enxergo a previsão / Mas toco o plano em frente / Pro meu destino eu estendo a mão…” Pegando carona na letra alto astral, digo só uma coisa: eu não era de me emocionar tanto, mas depois dessa música eu sinto menos chão… que bela canção!
Se for levar em conta que o segundo disco é sempre um grande desafio para os artistas – ainda mais quando a estreia tem o espectro do climático, melancólico e sensacional Sol no Escuro – posso dizer que no caso de Fabio Góes, ele tirou essa de letra, vencendo a peleja com sobras. E se as influências e associações sônicas vão de Clube da Esquina a Guilherme Arantes, de Coldplay a Radiohead, de TV on the Radio a Grizzly Bear, o fato é que cada vez mais Fabio Góes expõe a sua identidade musical autônoma, de brilho próprio. Uma verve artística que é sinônimo de música bem feita e de bom gosto.
Faixas: 01. Tão Alto e Fora do Lugar / 02. Domingo e as Plantas / 03. Nossa Casa / 04. A Rua / 05. Fugindo / 06. Frágil / 07. Incenso / 08. A Escolha / 09. E o Amor que Não Cabe Mais / 10. Na Pele / 11. Sonho / 12. Amor na Lanterna
* Resenha publicada originalmente em http://fabiogoes.com/pt/
FABIO GÓES – TÃO ALTO E FORA DO LUGAR
FABIO GÓES – TÃO ALTO E FORA DO LUGAR (2011)
FABIO GÓES – DOMINGO E AS PLANTAS
FABIO GÓES – NOSSA CASA
FABIO GÓES – NOSSA CASA (2011)
FABIO GÓES – A RUA
FABIO GÓES – A RUA (2011)
FABIO GÓES – FUGINDO
FABIO GÓES – FUGINDO (2011)
FABIO GÓES – FRÁGIL
FABIO GÓES – FRÁGIL (2011)
FABIO GÓES – INCENSO
FABIO GÓES – A ESCOLHA
FABIO GÓES – E O AMOR QUE NÃO CABE MAIS
FABIO GÓES – NA PELE
FABIO GÓES – SONHO
FABIO GÓES – AMOR NA LANTERNA