CACTUS – CACTUS (1970)

    Um dos grandes representantes do hard rock americano dos anos 70, o Cactus foi projetado inicialmente para ser um supergrupo, tendo à frente as figuras de Jeff Beck na guitarra, Rod Stewart nos vocais e a ex-cozinha do Vanilla Fudge – o baixista Tim Bogert e o baterista Carmine Appice. Mas as pretenções foram por água abaixo quando o genial guitarrista britânico sofreu um acidente automobilístico que o afastou de cena por um tempo, inviabilizando esta empreitada. Rod Stewart, por sua vez, acabou tomando outra direção. Além de investir em sua carreira solo, se aliou ao guitarrista Ron Wood – parceiro da primeira encarnação do Jeff Beck Group e futuro membro dos Rolling Stones – para juntos, integrarem o line-up de outra bandaça: os Faces.

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    Com as duas baixas inesperadas, Bogert e Appice assumiram as rédeas do combo e partiram então para um plano B, e ao final dos anos 60, a formação clássica do Cactus começou a tomar forma. Para completar o time, foram recrutados o vocalista Rusty Day (que vinha do Amboy Dukes, a banda de Ted Nugent) e o guitarrista Jim McCarty (que acumulava trabalhos com os combos Mitch Ryder’s Detroit Wheels e The Buddy Miles Express). Com este quarteto demolidor e experiente, gravaram entre 1970 e 1971, os três primeiros álbuns da banda: Cactus (1970), One Way… Or Another (1971) e Restrictions (1971). Meses depois do lançamento do terceiro LP, alguns desentendimentos fizeram com que Jim McCarty e Rusty Day deixassem a banda.

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    Este auto-intitulado disco de estréia foi lançado em 1970 pelo selo Atco, e mostrava as características marcantes do alicerce sonoro do grupo: um rock pesado, cru e de sonoridade suja, com uma pegada blueseira venenosa e algumas partículas country pra levantar a poeira da estrada. Elementos poderosos espalhados nas 8 faixas do LP original, que não à toa, é considerado um dos grandes lançamentos do rock pesado dos anos 70. Na estante de discos, guardo este e os outros LPs do Cactus lado a lado com outras porradas sônicas do naipe de Sir Lord Baltimore, Captain Beyond, Grand Funk Railroad, Dust, Blue Cheer, Mariani, Mountain ou West, Bruce & Laing – só pra ficar em algumas das bandas americanas adeptas da pancadaria sonora geral e irrestrita. 

Da esquerda para a direita, em sentido horário: Jim McCarty, Tim Bogert, Carmine Appice e Rusty Day, à frente do Cactus.

    Pesos pesados à parte, o álbum de estréia do Cactus atinge o ouvinte como um upper certeiro no queixo. Abre com a agressiva “Parchman Farm”, de Mose Allison, uma pedrada nos ouvidos com andamento alucinado e que foi regravada por outras bandas estilosas como o Blues Project e o Blue Cheer. “My Lady from South of Detroit” é uma bela canção com acentos country, daquelas que surgem como brisa em meio a um sol escaldante… ponha o cavalo na sombra, deite numa rede e relaxe. “Bro. Bill” é outra pérola blueseira que agrega belos dedilhados de McCarty, gaita maliciosa de Rusty Day, seção rítmica impecável e vocais vibrantes pra ensolarar o dia cinzento de qualquer bolha gosmento. Outro destaque vai para a versão venenosa de “You Can’t Judge a Book by the Cover” de Willie Dixon, com um arranjo envolvente e criativo, alternando climas amenos com levadas mais quentes nas instrumentações.

    “Let Me Swim”, com a clássica pegada possante da trupe, abre o lado B do vinil, impondo um hard rock matador, com direito a riffs pulverizantes e boas intervenções solísticas a cargo de Mr. McCarty. “No Need To Worry” é um blues arrasador, com andamento lento e vocal rasgado de Rusty Day, em mais um grande momento da banda. “Oleo” tem um temperamento boogie, com nova leva de solos matadores não só da guitar de McCarty, como também do baixo de Bogert. Em “Feel So Good”, riffs, timbres e grooves funcionam muito bem e o versátil Carmine Appice ainda castiga os bumbos, desferindo um solinho maneiro que comprova suas habilidades com as baquetas. 

    Musicalmente falando, o álbum apresenta os integrantes em performances arrebatadoras: muitos arpejos de gaita e o vocal indócil de Rusty Day, riffs e solos afiadíssimos vindos da guitarra de Jim McCarty e a cozinha entrosada e técnica dos virtuosos Bogert e Appice. Um álbum essencial para os admiradores do rock pesado, do blues e dos bons sons. 

    Em 1972, a banda gravou o seu quarto álbum, ‘Ot ‘N’ Sweaty, já com uma outra formação que incluía, além dos remanescentes Bogert e Appice, três novos contratados: o guitarrista Werner Fritzschings, o tecladista Duane Hitchings e o vocalista Peter French (ex-Leaf Hound e Atomic Rooster). Após a dissolução do Cactus em 1972 – e que só gravaria um novo álbum de inéditas em 2006, intitulado Cactus V – Tim Bogert e Carmine Appice ainda juntariam forças para formar ao lado de Jeff Beck, um power trio da pesada: o fantástico Beck, Bogert & Appice. Mas isso é um assunto que fica para uma outra postagem… Castiga!

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Faixas: 01. Parchman Farm / 02. My Lady from South of Detroit / 03. Bro. Bill / 04. You Can’t Judge A Book By The Cover / 05. Let Me Swin / 06. No Need To Worry / 07. Oleo / 08. Feel So Good

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CACTUS – PARCHMAN FARM

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CACTUS – MY LADY FROM SOUTH OF DETROIT

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CACTUS – BRO. BILL

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CACTUS – YOU CAN’ T JUDGE A BOOK BY THE COVER

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CACTUS – LET ME SWIW (JAMMING AT BACKSTAGE)

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CACTUS – NO NEED TO WORRY

CACTUS – OLEO

CACTUS – FEEL SO GOOD

17 thoughts on “CACTUS – CACTUS (1970)

  1. Os anos 70 foi uma época das mais fantásticas na história do rock. Grandes bandas, grandes músicos, grandes discos. O Cactus é só uma dessas bandas desse período. Uma pena que ela seja tão pouco divulgada….

  2. Muito bom teu blog, o review do Cactus ficou ótimo, só faltaram os links dos outros discos.
    Ab

  3. Valeu pelos comentários pessoal! E Nicodemus, vou preparar algo dos outros discos e qualquer hora eu posto os links aí. Abrazz

  4. Tenho os três discos do cactus, e parabéns. Pensei que somente eu vivia no universo das bandas pouco divulgadas. Vc tem informações para postar da banda brasileira TERRENO BALDIO?
    abraços, Domingos Leão

  5. Opa, Domingos. Pode apostar que no blog sinistro nunca vai faltar espaço para as bandas subestimadas ou pouco conhecidas do público. Eu curto os clássicos do rock, mas gosto também das benditas obscuridades musicais. O Cactus eu até considero um combo clássico no universo do rock, mas tem muita gente que nunca ouviu falar da banda, não é mesmo? Deixa comigo que qualquer dia desses vou publicar os discos do grupo aqui no Sinister.
    Quanto ao Terreno Baldio, postei recentemente dois discos da banda com as informações da ficha técnica dos álbuns. Depois dá uma conferida.
    Abração

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