Infalivelmente uma das mais fascinantes e criativas agremiações do rock progressivo em todos os tempos, o Gentle Giant surgiu em 1970 a partir das cinzas do combo Simon Dupree and The Big Sound. O grupo britânico criado pelos irmãos Derek, Ray e Phil Shulman marcou seu nome na história do rock desenvolvendo uma sincronia sonora cabulosa, combinando prog rock, hard rock, jazz, folk e elementos de músicas medieval, renascentista, barroca e clássica.
Sua estrutura musical complexa, sofisticada e de raríssima beleza, conseguiu cativar este bolha sinistro ao longo dos anos, ao passo em que explorava a sua discografia. Bandaça, cujo símbolo e mascote é uma cria do escritor renascentista francês François Rabelais: ninguém menos que Pantagruel, o gigante gentil que inclusive protagoniza algumas das letras da turma. Em 10 anos de carreira, lançaram 12 discos oficiais – a maioria deles, verdadeiras pérolas do progressivo.
Os oito primeiros discos (mais o ao vivo Playing the Fool, de 1977) são essenciais para ir a fundo no que de melhor a banda produziu em uma década de existência, antes de encerrar as atividades em 1980. Já que o assunto são obras primas discográficas do Gigante Gentil, nada melhor do que postar aqui no blog o segundo álbum do grupo, lançado em 1971 pelo cultuado selo Vertigo: o experimental e sombrio Acquiring the Taste. Engraçado que não era o meu disco predileto da trupe – curtia mais o Three Friends (72), o Octopus (72) e o The Power and The Glory (74) – mas diríamos que com o tempo, fui adquirindo gosto pela coisa e hoje é o meu play favorito.
A formação aqui era a mesma do primeiro álbum homônimo, lançado em 1970: Derek Shulman (vocal, saxofone e clavicórdio), Ray Shulman (baixo, violino, viola, violão de 12 cordas, guitarra espanhola, tamborim e vocais), Phil Shulman (vocal, saxofone, trompete, clarinete, piano e maracas), Kerry Minnear (piano elétrico, órgão, Moog, mellotron, xilofone, vibrafone, clavicórdio, cravo, maracas e vocal), Gary Green (guitarras de 6 e 12 cordas, percussão e vocais) e Martin Smith (bateria, tamborim e percussão). É notável a parafernália de instrumentos pouco utilizados na esfera do rock. É também o segundo e último disco do GG com produção do mago Tony Visconti (que deitou fama produzindo trabalhos de David Bowie, T. Rex e outros tantos artistas e bandas no decorrer da carreira).
Gary Green, Ray Shulman e Kerry Minnear em 1975
A ousada capa de Acquiring The Taste trazia um desenho que, a princípio, mais parecia uma língua prestes a lamber um traseiro. Porém, ao abrir a capa dupla, a imagem pervertida é desvendada: o suposto traseiro não passa de um pêssego, próximo de ser devorado. Uma iguaria sonora pra lá de suculenta, contendo uma coleção magnífica de músicas estranhamente belas e dissonantes, feitas para pulverizar a mente dos incautos.
Faixas como “Pantagruel’s Nativity”, “Edge Of Twilight”, “The House, The Street, The Room”, “Wreck”, “The Moon Is Down”, “Black Cat” ou “Plain Truth” mostram toda a inventividade e técnica do sexteto: harmonias melódicas surreais, texturas sonoras fantásticas, camadas vocais assombrosas, riqueza absurda nas composições, arranjos estranhamente belos, ousadia instrumental sem igual e nada, nadinha de melodias fáceis. Tudo sob a tutela de músicos de outra dimensão. Um disco anticomercial, de sonoridade difícil e que deu a eles o status de banda cult. Um registro no mínimo indispensável!
Um detalhe é que todos os músicos que passaram pelo Gentle Giant – incluindo os bateristas Malcolm Mortimore (que participou do álbum Three Friends) e o maluquete John Weathers (que estreou no excepcional Octopus e permaneceu na banda até o fim, gravando o derradeiro Civilian de 1980) – eram virtuoses em seus instrumentos. Kerry Minnear, por exemplo, não é só um dos melhores tecladistas da história do rock, como também é mestre arranjador e graduado em composição na Academia Real de Música. E o quê falar da versatilidade nas instrumentações dos irmãos Shulman? E quanto às geniais intervenções guitarrísticas de Gary Green? Surreal, meus amigos… surreal!
Derek Shulman segurando a onda do Gigante Gentil
Outro fator importante é que todos os integrantes cantavam. E como compreender o entrosamento vocal sobrenatural dessa turma? Coisa de louco! Uma combinação de vocais múltiplos e sincronizados, criando uma atmosfera do além. Os solos vocais ficavam a cargo principalmente de Derek Shulman (aquele com a voz mais grave e pesada), mas Kerry Minnear (com seu timbre suave e celestial) e Phil Shulman (cuja voz se situa, por suas características, no meio das duas anteriores, no meio-termo) também participam com maestria das vocalizações. Vale lembrar que Phil deixou a banda em 1973, pouco depois do lançamento do álbum Octopus.
No palco, o show de virtuosismo era marca registrada da banda. Todos eles multi-instrumentistas, chegavam a provocar admiração e assombro do público com a mudança freqüente de instrumentos, e também com a complexidade e a riqueza de suas composições e arranjos. Uma banda com um grau de excelência do mesmo nível de outros monstros sagrados do progressivo britânico como King Crimson, Yes ou Emerson, Lake & Palmer, por exemplo. Vejam o DVD Giant on the Box (com apresentações do grupo em emissoras de TV da Alemanha e dos Estados Unidos entre 1974 e 1975) e comprovem. Simplesmente fantástico!
Buenas, a verdade é que sou um bolha bem suspeito pra falar de Gentle Giant. Prova maior é que recomendo toda a discografia da banda, mesmo porque discos bem menos inspirados como The Missing Piece (77), Giant For a Day (78) ou mesmo Civilian (80), são bem melhores que muitas das babas sonoras produzidas na música de tempos em tempos. Certeza!
Faixas: 01. Pantagruel’s Nativity / 02. Edge Of Twilight / 03. The House, The Street, The Room / 04. Acquiring the Taste / 05. Wreck / 06. The Moon Is Down / 07. Black Cat / 08. Plain Truth
SINISTER VINYL COLLECTION: GENTLE GIANT – ACQUIRING THE TASTE (1971)
GENTLE GIANT – ACQUIRING THE TASTE (1971) [álbum completo]
GENTLE GIANT – PANTAGRUEL’ S NATIVITY
GENTLE GIANT – EDGE OF TWILIGHT (WITH THE MUPPETS)
THREE FRIENDS (KERRY MINNEAR, GARY GREEN, MALCOLM MORTIMORE…) – THE HOUSE, THE STREET, THE ROOM
GENTLE GIANT – WRECK
GENTLE GIANT – THE MOON IS DOWN
GENTLE GIANT – BLACK CAT
GENTLE GIANT – PLAIN TRUTH
Sua admiração por esse bandaço inesquecível deixa-me até constrangido. Há muito, tvz até, nunca, não vira uma resenha tão apaixonada ao mesmo tempo tão embasada.
Eu só sei ouvir e re-escutar, geralmente, babando.
Abraço
Não se acanhe, Sergio. Uma banda sensacional como o Gentle Giant merece todos os adjetivos engrandecedores possíveis. Sou um fã obcecado e estava devendo uma postagem do GG aqui no Sinister.
Ah, já andei dando uma olhadela no seu blog e sua resenha sobre o Three Friends está excelente. Outro discaço da trupe. Já vi que você gosta pouco da banda também, não é? hehe
Valeu, man!!
Mandou bem.
Meu top 5:
1° Octopus
2° Power And The Glory
3° Glass House
4° Acquiring The Taste
5° o primeiro
O que seria de um bolha sem as famigeradas listas, né Paulão. (risos)
Gostei do seu Top 5. Valeu pela visita. Abraço
senha?
Opa, Tamer!
Então, o primeiro link que postei, acabei de baixar o arquivo e está ok. O segundo link não estava mais funcionando e troquei por outro. Ambos não precisam de senha para serem abertos. Manda bala!
Abraço
Muito bom post. O álbum é maravilhoso.
Acabei de adquirir o vinyl(da cultuada Vertigo, óbvio) e estou ouvindo no momento em que escrevo. Maravilhoso álbum! O lado A é simplesmente incrível.
Por sinal, recomendo que ouçam no formato original, o LP.
É isso aí, Eduardo.
O lance é ter o disco original. Coisa de bolha, claro!
Abraço
O link esta quebrado
Opa Lucas! Encontrei outros 2 links do disco hospedados na internet. Divirta-se!
great experience, dude! thanks for this great
Articles wow… it’s very wonderful report.
Thanks, man! I love Gentle Giant!
Thanks for your comment.
Hugs
Thank you, that was extremely valuable and interesting…I will be back again to read more on this topic.
Thanks, I’m glad you enjoyed.
Hugs
Hello,
This is a question for the webmaster/admin here at sinistersaladmusikal.wordpress.com.
Can I use some of the information from this blog post above if I provide a backlink back to this site?
Thanks,
Peter
No problem, Peter. Just put the credits, ok!
Thanks.
I read a few topics. I respect your work and added blog to favorites.
I just came across your blog and wanted to say that I have really enjoyed reading your blog posts. Any way I’ll be subscribing to your feed and I hope you post again soon.
How are you, I was just looking through some blogs and I got to your blog from another site. I read some of your blog posts and think they are awesome. Thanks, I’ll try to stop by your website soon.
Thanks, guys!
Hugs